Entrevista

 

Irado Jovens buscam identidadeFixe

 Entrevista com psicóloga e escritora Doutora Olga Inês Tessari

 

- Por que os jovens têm a necessidade de se juntar em grupos?

Olga Tessari: Quando somos crianças temos por hábito acreditar piamente em tudo o que os pais nos dizem e afirmam e o nosso modelo de mundo é aquele que os pais nos apresentam, seria algo como enxergar o mundo através dos olhos de nossos pais, sob a ótica deles. A fase da adolescência é o momento em que o jovem constrói a sua própria identidade e sai em busca de seus próprios valores e modelo de mundo e, para isso, ele precisa deixar de lado ou negar os valores/conceitos/modo de vida de seus pais, que tinha até então. Seria algo como negar todos os valores que aprendeu até este momento, os valores que são de seus pais ou das pessoas com quem ele tem convivência: quem nunca viu um jovem dizendo que seu pai é "careta" e não sabe de nada ou mesmo aquele jovem calmo e tranqüilo, que acatava todas as ordens e que agora passa a contestar e discutir cada palavra e ordem de seus pais? Faz parte da fase da adolescência estar em grupo: é nessa fase da vida que os jovens formam os seus próprios valores e decidem o que "querem ser quando crescerem". Nesta fase da vida vale a pena experimentar de tudo até para poder decidir o que é o melhor para si mesmo. Como ele ainda não tem a sua identidade totalmente formada, ele procura andar em grupos de iguais para sentir-se integrado, para experimentar novos valores, conceitos, idéias,  modos de ser, etc.

 

O que significa para esses adolescentes a identificação com um determinado tipo de tribo, como dos metaleiros, punks, clubbers, pagodeiros, etc.?

Olga Tessari: Não é porque o jovem se integra a um determinado grupo que ele vai ser como estes membros do grupo a que está integrado. Como disse, muitas vezes ele precisa experimentar e fazer parte destes grupos, o que lhe permite aprender novos valores, questionar seus conceitos até concluir se estes valores são importantes ou não para ele. Todos podemos observar jovens fazendo parte de grupos que nada tem a ver com eles, mas faz parte desta fase de vida a experimentação. Vale dizer que, se o jovem é de uma família repressora, certamente, ele fará parte de um grupo X até para contestar seus pais: por exemplo, se ele vem de uma família que abomina pagode ou rock, é bem capaz que ele passe um período de tempo sendo pagodeiro ou roqueiro, apenas para contestar seus pais.

 

Como os pais devem encarar esse tipo de situação?


Olga Tessari: Quanto mais os pais proibirem o jovem de estar em determinado grupo, mais ele terá vontade de transgredir a ordem de seus pais. Nesse momento, é importante que os pais dialoguem com os filhos, mostrando o quanto é bom ou ruim para ele estar em determinado grupo, mas é importante que eles deixem para o jovem a opção de manter-se no grupo ou sair dele. Vale dizer que a adolescência reflete um pouco toda a convivência anterior que os pais tiveram com seus filhos. Se, durante a infância onde houve um bom diálogo familiar, certamente o jovem continuará dialogando com os pais e colocando suas idéias e interesses em participar de determinado grupo, estando aberto a ouvir a opinião dos pais e questionando com eles o seu interesse em participar de determinado grupo, sendo respeitado em sua decisão, apesar dos pais não concordarem.


É preciso observar o comportamento dos filhos para ver se esse tipo de situação não extrapola para outros aspectos, como drogas e violência, muito comuns em certos grupos?


Olga Tessari: Sim, os pais devem estar atentos ao comportamento dos filhos e conhecer de perto os amigos deles. Uma idéia é fazer festas em casa, levar os amigos para viajar junto com a família, procurar conhecer os pais dos amigos, saber onde e com quem os filhos estão. É claro que os filhos detestam esta vigilância toda, mas cabe aos pais mostrarem que confiam em seu filho, mas que precisam saber com quem eles estão. Vale ressaltar a importância do diálogo ao longo de toda a vida em família, fator fundamental para que os pais possam perceber quando o filho está se envolvendo com pessoas ligadas às drogas ou violência e poder orientá-los sem criticá-los, algo que não surte efeito positivo, pelo contrário, leva-os cada vez mais a contestarem seus pais e agirem não por vontade própria, mas apenas para transgredir as ordens familiares.  Atualmente os jovens já estão muito bem informados acerca dos malefícios das drogas, mas como eles nunca acreditam que o pior possa acontecer com eles, muitas vezes eles experimentam mesmo. É comum que jovens transgridam barreiras e ordens, mas se eles têm bem a noção dos limites, eles não se tornarão drogados ou viciados, até porque existe uma grande diferença entre experimentar e ser usuário regular de drogas. Aquele que se torna um viciado, assim o faz por uma série de fatores tais como: carência ou excesso de afeto, ou então, por não saber lidar com os limites impostos pela sociedade justamente por não ter aprendido isso em casa. O viciado busca um refúgio na droga, algo que o deixe ‘fora da realidade’, justamente porque a sua realidade é ruim, sofrida, porque ele não sabe como lidar com ela, algo bem diferente daquele jovem que apenas experimenta a droga e depois a deixa de lado porque apenas quis saber que gosto tem e não para fazer uso dela por outros motivos. Ele até pode se sentir pressionado pelo seu grupo para continuar com o uso freqüente, mas acabará por se afastar deste grupo e buscar outros que respeitem suas opiniões, se sua auto-estima estiver em alta, algo que se consegue com o amor, carinho, compreensão, limites e muito diálogo entre ele e seus pais.